sexta-feira, 13 de abril de 2018

Um pouco do presente

Nossa, fazia muito tempo que eu não entrava aqui. A vida foi correndo, mas a história de Afrânio do Amaral tem novos capítulos que merecem ser contados...Reproduzo abaixo post que fiz no Facebook, por ocasião da homenagem a Afrânio do Amaral em fevereiro.

A descendência em frente à casa

Hoje, eu e minha família estivemos na celebração dos 117 anos do Instituto Butantan. Fomos convocados pela direção para uma bela homenagem ao meu bisavô, Afrânio do Amaral. Foi muito gostoso andar por aquelas alamedas com gostinho de "aqui já foi a casa da minha família". Foi mesmo. Minha avó morou literalmente dentro do Butantan durante boa parte de sua infância (1928-1938). A casa, hoje sede da direção, era o lar de Alda e sua irmã, Lilia, e do meu bisavô e da minha bisavó, Lucia.

Frutas antes da refeição

Meu bisavô eu conheci pouco. Morreu em 82, eu era criança demais. Era sisudo, mas vivia comendo banana com queijo, e eu achava isso engraçado. Dizia que era bom comer frutas antes da refeição e valorizava a soja como alimento. 
Afrânio fez um bocado pela ciência. Sucedeu Vital Brazil no comando do Butantan, deu aulas em Harvard, a convite, minha avó nasceu nos EUA na década de 20, ajudou a criar um instituto similar ao Butantan nos EUA (antivenom), descreveu a jararaca da Ilha de Queimada Grande, publicou 450 artigos científicos, participou da criação do esperanto, foi capa da revista Time por conta de seu trabalho, foi consultor da OMS...
Seus feitos, depois que virei gente, sempre achei que não foram devidamente registrados pela história.
Fiz minha minúscula parte no latifúndio, criei um blog com seu nome, corrigi algumas coisas na Wikipedia - até hoje sou procurada por gente super bacana do Brasil todo e, é claro, de Belém do Pará, ele nasceu rodeado pela natureza dessa cidade deslumbrante.
Homenagem é entregue à família 

Voltei ao Butantan quando pegou fogo em parte do acervo de pesquisa, em 2000 e qualquer coisa. Um ex-chefe do Estadão me disse para ir lá, conhecendo minha história. Uma funcionária ficou emocionada quando eu mencionei o nome de Afrânio, contou várias histórias.

Uma dessas histórias antigas eu conheço de ouvir falar. Afrânio foi exonerado injustamente pelo então governador Ademar de Barros - sobre isso escreveu um livro, Serpentes em Crise, para defender-se, e mais tarde ganhou ação na Justiça. Por causa dessa disputa política, desconfio, seu nome deu uma sumida da esfera pública.

Despedida

A história contada por minha avó é assim: "Voltei da escola com minha irmã e as minhas malas estavam dentro de um carro. Nunca mais vi meu quarto, fui morar com meus avós do outro lado da cidade". 
Fiquei feliz de testemunhar a minha vó, Alda, de 91 anos, voltar à casa da sua infância. Ela foi ouvida pelos atuais funcionários e dizia coisas como: "Aqui era meu quarto, aqui era o escritório". Lindo esse resgate, parabéns aos funcionários tão delicados em sua abordagem! Agora, a casa tem o nome de seu pai! 
Fiquei feliz de ouvir minha filha e minha sobrinha, "trisnetas" de Afranio, terem seu nome mencionado pelas autoridades presentes, como o governador Geraldo Alckmin. 
Fiquei feliz hoje de ouvir o discurso do atual diretor, Dimas Covas, que lembrou da importância da pesquisa na área da saúde no Brasil, voltando no tempo e ensinando a todos o valor dos estudiosos. Foi bonito ouvir ele valorizar Afrânio ao lado de Vital Brazil como lumiar para a existência do Butantan como é hoje; além de tudo estavam inaugurando mais um setor de produção de vacinas.
Sei que a história do BR é mal contada, esburacada, cheia de lacunas. 
Mas hoje senti um leve sopro de otimismo...

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