quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Venenosos, peçonhentos...

Em Serpentes do Brasil, Afranio do Amaral descreve as diferenças entre os tipos de veneno dos animais:

"(...) É de bom aviso, no estudo dos animais dotados de toxicidade, distingui-los em dois grupos:

a) no primeiro, representado pelos 'veneníferos', se incluem, por exemplo, não somente as aranhas, os escorpiões, as vespas etc., mas principalmente todas aquelas serpentes (como, no Brasil, a cascavel, a urutu, a surucucu, a caissaca e a jararaca) que possuem presas tubulares, prontas para injetar, no ato da picada, o veneno profundamente nos tecidos da vítima;

b) no segundo, os 'venenosos' (ou semi-veneníferos), que englobam as serpentes desprovidas de presas capazes de inocular, nos tecidos da vítima, a saliva tóxica (exceto quando conseguem retê-la, mastigando-a ao ponto de inocular-lhe a dita secreção através das punturas que produzem nos tegumentos triturados) antes de a engolir. No caso dos sapos e outros batráquios, cuja secreção tóxica exsuda da pele, a classificação correta exige chamá-los de 'peçonhentos'".

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Origens

Quando criança, Afrânio do Amaral fazia expedições pela cidade natal, Belém do Pará. A fauna e a flora o encantavam, em especial as serpentes. Volta e meia capturava alguma espécie, levando-a em seguida ao museu local para averigüações científicas. Na época, provavelmente o que mais lhe atraía era o chamado cromatismo das serpentes brasileiras, ou seja, a gama variadíssima de cores que possuem. Em "Serpentes do Brasil", ele anota: "As serpentes representam um grupo de animais cuja constituição é realmente antiga. Surgiram aparentemente do meio para o fim da era cenozóica, deixando fósseis em terrenos no período cetáceo". Aos poucos, este blog irá contar um pouco sobre a história de Afrânio e, é claro, sobre sua maior paixão, as serpentes.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

"SNAKES"

A revista Time que aparece no início deste blog com Afrânio do Amaral na capa é de 28 de janeiro de 1929. O herpetólogo estava nos EUA por conta de um convite feito por intermédio da Embaixada daquele país, para organizar o Antivenin Institute of America. O instituto desejava igualar a excelência do similar brasileiro, o Butantan. A revista qualificou Afrânio como "o homem mais ativo do mundo quando se trata de pesquisa com veneno de serpente". É importante salientar que o nome correto do réptil é serpente - e não cobra.
Para quem desejar ler o artigo na íntegra: http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,723579,00.html

terça-feira, 5 de agosto de 2008

UM CIENTISTA BRASILEIRO



AFRÂNIO DO AMARAL foi um cientista brasileiro (1894, Belém do Pará - 1982, São Paulo), autor de Serpentes do Brasil, uma iconografia colorida com mais de 582 gravuras de serpentes brasileiras. Foi pioneiro no estudo detalhado e descritivo, em 1920, da jararaca-ilhoa, cujo veneno é mais potente que o da jararaca existente no continente. O habitat dessa serpente é a Ilha de Queimada Grande.
Dirigiu o Instituto Butantan pouco depois de sua criação, em duas fases: de 1919 a 1921 e de 1928 a 1938.
Em 1919, ele ocupou a chefia do departamento de Ofiologia e Zoologia Médica do Instituto. Casou-se, teve duas filhas, lecionou no Antivenin Institute of America. Foi capa da revista Time em 1929, em que foi personagem central da matéria intitulada "Snakes", por conta de seu trabalho no Butantã.

Estudou medicina na Faculdade de Medicina da Bahia, hoje parte da Universidade Federal da Bahia. Fez doutorado em Harvard (EUA), onde também lecionou, chegando a produzir cerca de 400 trabalhos acadêmicos. Foi consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica (com sede em Londres), cargos para os quais foi eleito.
O cientista foi acusado de irregularidades administrativas à frente do Butantan, sendo absolvido de todas as acusações. O então deputado Adhemar de Barros costumava fazer críticas à direção de Afrânio; quando Barros assume como interventor no estado de São Paulo em 1938, Afrânio é afastado da direção do instituto. Nelson Ibañez e Osvaldo Augusto Sant'anna citam, no livro Instituto Butantan: a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico em saúde, que o cerne dos problemas ocorridos no instituto deveu-se a um jogo de interesses pessoais e de poder de poucos que marcaria a instituição por cinco décadas. Mais tarde, o próprio Afrânio forneceu sua versão para os fatos no livro Serpentes em crise, com prefácio de Monteiro Lobato. Segundo o cientista, houve uma confusão entre o interesse coletivo dos estabelecimentos públicos versus o personalismo de técnicos, que adquiriam experiências voltando─se para a indústria privada e concorrente.Assinalando a importância de Afrânio do Amaral na ciência brasileira, Gilberto Freyre escreveu, em artigo publicado em "O Jornal" em 1944, que o mundo passaria a ver o Brasil não apenas por suas belezas naturais, mas também, e principalmente, por talentos como Afrânio do Amaral, citando, também Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Clovis Beviláqua, entre outros.